Dia 24


Todos os últimos, de todos os lugares, são prioridade aos olhos de Deus.
A casa de Deus será casa de últimos. 

Aos olhos da nossa comunidade em que lugar estão os últimos?
Sem falsas desculpas...por que não são as nossas igrejas casa de últimos?

8 comentários:

Unknown disse...

Neste campo há motivos para a ESPERANÇA... Na minha comunidade vamos ao encontro dos últimos sim. O nosso jovem Pároco vai ao encontro deles e incentiva-nos a ir também, visita-se os doentes e velhinhos, ciclicamente de maneira a chegar aos que querem e precisam da sua atenção nas 4 paróquias.Formou-se um grupo que lhe canta as janeiras com tempo, levando-lhes bolachas e flores, uma iniciativa que os deixa encantados, cantamos e comemos do que têm preparado com carinho para nós, é um momento de comunhão fantástico que cria laços. Agora e motivadas por estas jornadas pastorais formamos um grupinho pequeno apenas 4, para revisitarmos os que pedem "venham mais vezes"e nós "BAMOS". Existe também como que uma parceria entre a assistente social da câmara e a Igreja, na pessoa do Padre, a fim de arranjar solução para casos desesperados que só a boa vontade de alguém que segue o Mestre, pode ajudar a resolver, pois a sociedade não dá resposta e nós Igreja já demos solução para alguns casos bem concretos.Temos também um grupo organizado de Vicentinos que dão apoio aos que mais precisam, envolvendo nisso toda a comunidade. Não é muito,mas já é alguma coisa. No entanto, existe por aqui um grande flagelo, que estamos a ignorar, a prostituição, será algo que como Igreja, teremos de pensar... Ajudar a trazer dignidade a tantas jovens mulheres que são exploradas todos os dias nas ruas da nossa terra . Há caminho... "o Meu Pai trabalha...Eu também trabalho".Não podemos cruzar os braços ...

Ana disse...

Quando ouvi pela primeira vez nestas Jornadas o desafio semelhante a esta segunda pergunta, penso que falava-se de uma mudança de Igreja PARA os últimos para Igreja dos Últimos, fiquei a pensar em quanto tenho (temos) para me converter. Lembrei-me como às vezes posso privatizar a "messe", pensar que o lugar dos últimos é o fim do meu serviço e desconfiar ou estar desconfortável na vivência comunitária com cegos, coxos e leprosos. Devo caminhar na descoberta que o meu irmão é de facto alguém que dou a mão para irmos juntos dar a mão a outros que por aí precisam. Mal ou bem, o espírito vai dando um jeito no nosso pouco jeito...

Há mesmo um sabor especial numa Igreja de últimos, mas parece que ainda nos custa tirar todo o nosso orgulho, manias e jeitos. Quando caminho e quão luminoso :)

Um abraço a todos e obrigada

Unknown disse...


…até podia teorizar um bocadinho à cerca dos últimos…podia, podia…! Quem são os últimos? Onde estão? Quantos são? O que fazem?.... identificá-los primeiro, depois fazer o diagnóstico social dos últimos que encontrasse e gizar um “project finance” para lhes resolver os problemas de acesso a isto e àquilo…Classificá-los: olha estes daqui são mais últimos do que aqueles dacolá…Há mais últimos tipo 3 que últimos tipo 4… Mas numa distribuição normal, numa curva de Gauss…a maioria dos últimos é tipo 5….
Podia, podia…mas não ia dar nenhum resultado…ou melhor…ia acabar por culpar o sistema…este e aquele regime e tal….
Confesso que estou um bocadinho farto dessas teorias….!
Confesso também que os últimos me entram pelos olhos dentro todos os dias e mudam de um dia para o outro à velocidade com que nos deixamos esmagar pelo lufa-lufa diário…hoje os últimos são uns, amanhã já são outros…num click!

Primeiro passo: todos os homens são iguais e não há homens mais iguais do que outros, por muito que o George Orwell se torça todo…

Pergunta: Sou capaz de viver, como quem respira, aquela afirmação?
Aquele negro que todos os dias se senta numa floreira do rés-do-chão do prédio onde trabalho, junto da sua mochila vermelha, que por vezes abandona para ir esticar as pernas e ninguém lha tira, ninguém lha rouba porque sabe que é dele e, porque é dele, não valerá, decerto, a pena roubar-lha…é meu irmão ou não? É igual a mim, ou não?

Resposta piedosa: É.

Resposta real: Não. Nunca me sentei com ele na floreira. O máximo que fiz foi sorrir-lhe (e não é que fui logo retribuído…?)!?!? Nem sei como se chama. Nunca comi com ele. Nem sei onde mora. Não lhe conheço qualquer história.
….e as perguntas e os exemplos poderiam repetir-se até à exaustão…

Claro que sonho com um “mundo melhor”…mas só sonho…

Pergunta: porque é que não sei o nome daquele negro que todos os dias senta numa floreira do rés-do-chão do prédio onde trabalho e abandona a sua mochila?
Resposta: porque nunca lho perguntei.

Pergunta: porque é que nunca perguntei o nome àquele negro que todos os dias se senta numa floreira do rés-do-chão do prédio onde trabalho e abandona a sua mochila?
Resposta: porque nunca me aproximei dele. Porque nunca fui ter com ele, porque nunca…

Pergunta: porque é que nunca me aproximei daquele negro que todos os dias se senta numa floreira do rés-do-chão do prédio onde trabalho e abandona a sua mochila?
Resposta: porque, na verdade, ele não faz parte da minha rotina diária…não pertence ao “meu mundo”…

(…)

Entretanto…fui lá abaixo ver se aquele negro que todos os dias se senta numa floreira do rés-do-chão do prédio onde trabalho e abandona a sua mochila…estava lá…

Não estava.

Perdi a oportunidade de ser próximo, de lhe perguntar o nome!

Fiquei para último.

E também é por isto que as nossas igrejas não são casa de últimos…
(…)
Pai, louvo-te, mas não chega…!

Empurra-me para o negro que todos os dias se senta numa floreira do rés-do-chão do prédio onde trabalho e abandona a sua mochila.

Segundo passo: tenho de ser eu a dá-lo! Não há outro modo!


Eugénia Pereira disse...

Em que lugar estão os últimos?
Boa pergunta...
Depende dos últimos!
Se considerarmos os pobrezinhos, os velhinhos, os doentinhos,... destes as comunidades lá vão cuidando, umas mais do que outras, com mais ou menos julgamentos pelo meio, acerca de quem precisa mais ou menos... mas lá se vai fazendo alguma coisa. Até existem grupos para isso... os dacaridade.
E os outros? Será que há mais no fundo da lista?
Se últimos são aqueles a quem todos passam à frente... se não olharmos para trás não os vemos.
Se últimos são aqueles que estão mais no fundo, se andarmos de nariz empinado nem damos conta deles...

Estávamos no Ano da Misericórdia e, alguns minutos antes da celebração da Eucaristia, entra pela igreja a dentro um estrangeiro. Trazia na mão uns papeis que distribuía pelas pessoas. Houve logo a preocupação de saber o que este homem estava a dar aos fieis: no papel pedia ajuda para um filho com problemas... ajudava quem tivesse vontade.
O problema é que estava dentro da igreja e não podia pedir sem autorização do sr. Padre, que ainda não tinha chegado. Por causa disso foi posto fora (tinha que pedir autorização)...
O homem bem reclamou... que igreja era aquela... mas pegou-se por um braço e, num tom mais áspero, marcou-se território.
E eu ali, estática, sem ousar mexer uma perna ou um braço para fazer fosse o que fosse.
Entretanto, depois do homem ter ido embora, chegou o nosso pároco. Preparou-se para a celebração e tudo aconteceu como de costume... menos eu, eu não estava como de costume, aquilo tinha mexido comigo e eu só me apetecia chorar (a consciência pesava tanto que me apetecia fugir).
A celebração nesse dia não era de celebrar...
No momento da homilia, o sr. Padre começou a falar de Misericórdia (ou não estivéssemos no ano dela)... que era preciso saber acolher, que temos que olhar para os últimos, que a Igreja deve ter sempre as portas abertas para TODOS,... parecia que o nosso padre já tinha conhecimento do ocorrido e nos queria dar uma lição , mas não (soube eu mais tarde).
O Espírito tem destas coisas... não pára.
Os meus olhos fixaram-se no chão e cerrei os dentes para as lágrimas não caírem... aquelas palavras acertavam-me como flechas, e ainda hoje dói.
Porque fiquei ali?
Porque não tomei partido por aquele estrangeiro?
Porque não fui ter com ele, lhe pedi desculpa e o convidei a ficar?
Porque me acobardei?

Quantos exemplos semelhantes não conhecemos?

Temos medo de nos aproximarmos de estranhos... do que vão dizer as pessoas, da reputação com que vamos ficar se fizermos diferente, das consequências para nós,...
Desculpamo-nos com o "não queremos dar nas vistas"...

Quem ousa aproximar-se daquela prostituta que está todos os dias na berma da estrada por onde passo, para perguntar se está bem, se precisa de alguma coisa,... sem medo de ser mal visto(a)?

Quantas vezes já demos um abraço a um cigano, que nos vem importunar com pedinchices?
E os drogados?
E os que estão sempre mal humorados?
E os maluquinhos?
E os refugiados, que só vêm tirar lugar aos "nossos"?
E aquela mulher ou aquele homem que, para além de ser gorda(o) é feia(o)?
...
São tantos, os do fim da lista, os das catacumbas, os das margens...

Porque é que há últimos?
Não sei... mas tenho a certeza que não é por vontade de Deus.

Porque não são as nossas igrejas casas de últimos?
Porque estão a abarrotar de regras e coisas demasiado "sagradas" para dar lugar a quem não traz grandes benefícios às comunidades... só chatices.

Ainda tenho um longo Caminho para fazer... mas não posso fazê-lo sozinha.

Obrigada por me ajudarem a pensar estas coisas!

Unknown disse...

Os últimos,quem são eles na sociedade atual!?
Tenho alguma duvida na interpretação,pois há momentos que qualquer um de nós pode ser o último,e não só o doente,o drogado,o marginalizado,o desempregado....
A Igreja Católica tem muitos movimentos para ajudar os últimos,os definidos pelas normas,mas será a forma mais acertada? Será que é suficiente?
Será que uma atitude nossa,um sorriso,um minuto de conversa,um telefonema,uma mensagem...,não podem ser formas de ajudar um último?
Obs: Adorei a estória em quadrinhos,tive de partilhá -la,para que mais pessoas ficassem a pensar.

antonio valente disse...

Os Ultimos, os Ultimos, na minha paróquia, já fazemos um trabalho para chegar aos Ultimos, visitamos os doentes, temos uma equipa que se dedica aos mais desfavorecidos, um proximidade com as Familias, mais carenciadas, pagamos medicaçao aos que não tem possibiliadades de a comprar, Luz, agua, gás, ajudamos na alimentação, criamos uma mercearia social, onde as Familias vão buscar o que precisam para o sustento dos agregados, mas depois de eu relatar tudo isto, ainda nos falta muito caminho para andar, não nos acomodamos, queremos ir mais adiante, dar mais um passo, é um projeto desta paróqua para este ano, decidido pelo conselho pastoral da paróquia, em que tem sido bem acolhido pela comunidade.

VOANDO... disse...

Deve prevalecer o serviço do acolhimento como uma aposta que sempre se vai melhorando.
Sendo um conjunto de irmãos unidos pela mesma fé e tendo um Pai comum não faz sentido existir senão a prática do amor entre todos. Além de amarmos os amigos, também somos convidados a amar os inimigos. A indiferença e as atitudes de arrogância não fazem sentido numa comunidade, nem em cada um de nós como pessoa. Com todos criar relações de proximidade.

Teresa disse...

Luz, Ana, Miguel, Eugénia, Elizabeth, António, Voando, OBRIGADA!

Esta semana está de facto a valer a pena!

Há ainda caminho a fazer. Há um caminho de conversão pessoal que exige passos pessoais, e há caminho comunitário a fazer.
Inverter a lógica.

Aprendermos do Acolhimento e virarmo-nos para o outro, abertos, disponíveis.

Há ainda passos largos a dar. Façamo-los juntos!

Teresa Ascensão
Equipa coordenação JRP

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